Geração do Negativo: enxergava nada, mas acreditava em tudo

Ser da geração que tentava decifrar o negativo da foto é basicamente ter um diploma em “imaginação avançada”. Era um exercício de fé e visão além do alcance: a pessoa levantava o filme contra a luz achando que ia enxergar um retrato nítido, mas tudo que via era um borrão alaranjado com fantasmas invertidos. E ainda tinha sempre alguém que jurava saber o que era — “olha aqui, é a vó sorrindo!” — quando, na verdade, era um poste. A emoção de revelar fotos era uma verdadeira roleta russa: ninguém sabia se sairia uma lembrança linda ou um registro permanente de olhos fechados e dedo na lente. A juventude de hoje nunca vai entender o suspense de esperar uma semana pra descobrir que metade das fotos do aniversário saiu preta. Era um tempo mais simples, em que não existia “modo retrato”, mas todo mundo tinha história pra contar — inclusive as fotos tremidas.




