A arte de atender telefone no Brasil é quase uma prova de resistência emocional. Se for ligação pra homem, então, a missão ganha um modo “insano”. Primeiro vem a recepção calorosa estilo “tropa de elite”: voz grossa, tom de ameaça, e a pergunta clássica carregada de desconfiança e ciúmes de novela mexicana. A cada palavra, a impressão é que você ligou direto pro Ministério da Defesa, não pra uma casa com um ser humano que enviou um currículo dois dias atrás.
Mas bastou mencionar a palavra mágica “entrevista” e o nome da empresa, que tudo muda. A ira vira emoji de sorriso, e aquela voz que parecia de segurança do presídio se transforma em voz de ursinho carinhoso. É um milagre da educação corporativa: do ódio à simpatia em 0.5 segundos. Se deixasse, ainda oferecia um cafezinho e pedia desculpa por ter gritado.
No fundo, o brasileiro é assim: bravo por padrão, mas educado por conveniência. E desempregado, acima de tudo.