Existe um ponto no rolê em que a diferença entre um brinde e um ritual de invocação desaparece. Começa tudo com um inocente “só uma cervejinha pra esquentar”, e termina com o sujeito acreditando que o etanol é apenas uma bebida artesanal de posto. O fígado já entrou em greve, o juízo pediu demissão e o corpo opera no modo “Deus me livre, mas quem me dera”.
O brasileiro tem essa habilidade rara de transformar qualquer líquido em motivo pra brindar. Se estiver gelado, serve. Se queimar a garganta, melhor ainda. A régua moral do rolê vai descendo junto com o copo — e o nível de dignidade acompanha. O importante é manter a tradição de acordar no outro dia jurando que “nunca mais bebe”, até a próxima sexta-feira bater na porta.
E o melhor de tudo é que, mesmo bêbado, o brasileiro ainda arranja tempo pra rir de si mesmo. Porque no fim, a gente não bebe pra esquecer — a gente bebe pra gerar conteúdo.
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