
Existe um talento especial no brasileiro para transformar qualquer interação digital em um pequeno mercado paralelo, onde o preço das coisas varia conforme a fome, a carência ou a criatividade do dia. E nada simboliza melhor essa habilidade do que a clássica negociação expressa em forma de “manda teu Whats… mas paga uma pizza antes”. É quase uma economia afetiva gourmetizada, onde o valor de um número de celular oscila entre uma brotinho de mussarela e uma família de calabresa com borda recheada. Enquanto isso, a pessoa do outro lado tenta entender se está participando de uma paquera, de um assalto cordial ou de uma promoção relâmpago do iFood emocional.
A graça está no fato de que todo mundo conhece alguém que age exatamente assim: não passa o número, mas aceita uma margherita como moeda oficial de confiança. No fim, fica a reflexão de que o amor moderno não se constrói mais à base de poesias, serenatas ou cartas perfumadas. Hoje, a prova verdadeira de interesse é bancar a pizza. E, sinceramente, funciona melhor do que muito poema mal rimado. Se existe língua do afeto no século XXI, ela vem acompanhada de catupiry.






