
Existe um tipo de romance brasileiro que ultrapassa qualquer novela: o romance financiado pelo cartão da vítima. Nada expressa mais carinho do que a promessa de que “minha mulher não passa vontade”, seguida imediatamente pela revelação de que o investimento amoroso saiu diretamente da conta de quem teve a vontade. É a versão moderna do “te comprei flores”, só que agora com fatura, juros e, dependendo do mês, até parcelamento em doze vezes sem nenhum pudor. A pessoa nem recebeu o chocolate ainda e já está passando pelo luto financeiro. É o amor transformado em débito automático, aquele tipo de parceria que ativa o limite e também o desespero.
E o melhor é a naturalidade com que a prática acontece, como se fosse a coisa mais romântica do mundo usar o cartão do outro para comprar mimo… para o outro. É quase um presente circular, uma gentileza financiada pela própria vítima. É uma demonstração de afeto que mistura carinho, golpe e uma pitada de comédia, porque só o brasileiro consegue fazer uma prova de amor virar uma aula prática de como destruir o orçamento mensal em nome do pistache. No fim, sobra a barra, o susto e a certeza de que o limite do cartão é sempre o primeiro a sofrer nesse relacionamento.






