Só quem já pisou no inferno natalino entende

Só quem já pisou no inferno natalino entende

Existe um sofrimento que une gerações e cria um tipo de irmandade silenciosa, quase espiritual: a experiência de pisar descalço numa lâmpada de pisca-pisca de Natal. A imagem resgata esse clássico instrumento de tortura doméstica que transforma qualquer pessoa num monge iluminado, cheio de reflexões existenciais e palavrões internos. É o tipo de dor que não precisa ser medida em escala, porque já nasce sendo “nível apocalipse”. Quem sobreviveu a isso já vem automaticamente habilitado para enfrentar fila de banco, consulta do SUS e ligação de telemarketing sem perder a compostura. A verdadeira escola da vida é feita de pequenos plásticos pontudos largados no chão da sala.

E o mais curioso é como essa simples lembrança coloca em perspectiva o que é ter “moral” na vida adulta. Não é diploma, não é salário, não é carro. É ter atravessado a infância desviando de brinquedos letais, pisca-piscas assassinos e peças de montar genéricas que cortavam a alma. A imagem, com seu humor seco e certeiro, reforça que só entende o valor da resiliência quem já gritou sem emitir som após um desses espetar o pé. No fundo, é quase um teste de caráter, uma triagem natural dos fortes.

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