
Essa imagem é o retrato fiel da hierarquia de prioridades do brasileiro moderno. O caos pode estar instaurado, o universo pode estar desabando, mas o cérebro segue firme focado no que realmente importa. A tragédia urbana vira pano de fundo enquanto a fome assume o protagonismo absoluto. Existe uma capacidade admirável de processar informações graves e, ainda assim, filtrar tudo pelo estômago. É quase um mecanismo de defesa nacional: quando a realidade aperta, a mente pergunta se o lanche chega. A empatia existe, claro, mas ela vem acompanhada de uma ansiedade alimentar que não aceita atrasos, desculpas ou explicações longas.
O mais engraçado é como a lógica é impecável dentro da própria confusão. A perda material vira um detalhe triste, porém contornável, enquanto a ausência do lanche é tratada como um problema estrutural. Isso diz muito sobre um país onde o delivery virou pilar emocional, apoio psicológico e promessa de felicidade temporária. A imagem não é sobre falta de sensibilidade, é sobre sobrevivência. Quem nunca ignorou um drama maior porque estava com fome não viveu plenamente a experiência brasileira. No fim, o medo não é da injustiça, nem do prejuízo, nem do estresse. O verdadeiro terror é a noite terminar sem comida, porque tragédia a gente até engole, mas fome não desce.






