Quando emprestar vira doação não oficial com apego emocional

Quando emprestar vira doação não oficial com apego emocional

Essa imagem é a prova de que o conceito de “sem pressa” no Brasil é uma entidade abstrata, quase filosófica. Existe o sem pressa humano, que dura alguns minutos, e o sem pressa lendário, que atravessa eras, governos e gerações. O carro ali não foi emprestado, foi adotado. Já criou vínculo emocional, conhece os buracos da rua melhor que o dono original e provavelmente tem histórias que ninguém quer ouvir. A sensação é de que o veículo virou personagem fixo da família, aquele parente distante que some e volta anos depois dizendo que sempre esteve por perto.

O melhor é o contraste entre a tranquilidade absoluta e o desespero existencial de quem já não reconhece mais o próprio bem. Três anos é tempo suficiente para esquecer o cheiro do banco, o som da seta e até onde fica a marcha ré. A imagem passa aquela vibe de contrato invisível, onde a confiança foi tão grande que virou abandono afetivo automotivo. No fim, o carro deixa de ser objeto e vira memória vaga, quase uma lenda urbana. É o tipo de situação que faz a pessoa questionar se o bem ainda é seu ou se já entrou oficialmente em posse mística de outra pessoa. Brasil sendo Brasil, sempre elevando o improviso a um nível profissional.

guest
0 Comentários
newest
oldest most voted
Inline Feedbacks
View all comments
Rolar para cima