Ah, o lar brasileiro: onde se paga conta de luz como se estivesse financiando uma usina nuclear e, ao mesmo tempo, se vive o dilema ético de apagar a lâmpada ou deixar acesa “pelo bichinho”.
Porque aqui não é só gato, não. É filho. É alma da casa. É o ser peludo que dorme 18 horas por dia, derruba copo como se fosse ritual e te julga com aquele olhar de “você realmente vai sair com essa roupa?”
No Brasil, economizar energia elétrica é quase esporte olímpico. Apagar a luz virou uma gincana: ganha quem correr mais rápido pelos cômodos dizendo “ninguém tá usando essa luz!” e perde quem tenta argumentar. Mas basta um focinho, um “ronron” e pronto — lá se vai a economia, porque “tadinho do Totó do breu”.
É esse o país onde se esquece o CPF na farmácia, mas não esquece que o gato tem medo do escuro. Onde o humano trabalha o dia todo e o pet vive no spa emocional. E mesmo assim, a gente ainda se preocupa com o conforto do felino como se ele pagasse o boleto da Enel.
Talvez seja esse o segredo: o brasileiro já apanha tanto da vida que quando vê um serzinho fofo e inocente, resolve poupá-lo da dureza do mundo. Nem que pra isso o gato tenha o privilégio de morar num quarto iluminado estilo aeroporto de Congonhas.
E assim seguimos: entre o amor que sentimos pelos bichos e o ódio que temos da conta de luz. Porque no fundo, o brasileiro é isso aí — um sobrevivente com o coração mole e a carteira vazia.