
Chorar hoje em dia virou item de luxo. A vida adulta tá tão corrida que até o sofrimento entra na agenda: “Chorar – terça, das 19h às 19h07, se sobrar tempo”. E quando a pessoa resolve desabafar, o desabafo vem no formato de filhote com garrafa na boca, porque nada traduz tão bem a bagunça emocional quanto um cachorro tentando mastigar o próprio drama. A imagem já diz tudo: “estou na merda, mas continuo fofo”.
Tem gente que não pode nem desenvolver a tristeza, porque senão o boletinho emocional atrasa. Então manda um “só vim desabafar” como quem diz “rapidinho, só passando pra deixar meu coração no balcão”. E o pior é que a gente entende. Porque quem nunca teve que apressar a própria lágrima pra não perder o prazo da próxima reunião? Quem nunca pensou “vou chorar no ônibus mesmo, que é o tempo que tenho”? No fim, o verdadeiro resumo da saúde mental contemporânea é simples: a gente não tá bem, mas pelo menos tem meme.






