A versão dela ganhou até de mim

A versão dela ganhou até de mim

Essa imagem é praticamente o manual não oficial de relações humanas no Brasil, edição atualizada com sinceridade seletiva. Existe a verdade factual, aquela sem tempero, e existe a versão alternativa, que passa por filtros emocionais, narrativos e um leve toque de roteiro de série dramática. A graça está justamente no reconhecimento de que a versão contada quase nunca é a mais justa, mas com certeza é a mais emocionante. Todo mundo já esteve do lado de quem escuta e pensa “eu não lembro assim”, enquanto o outro entrega uma obra-prima digna de prêmio de melhor vilão da temporada.

O humor aparece quando surge a autoconsciência tardia, aquela percepção de que a história foi tão bem distorcida que até o próprio personagem começa a duvidar da própria sanidade. É o famoso arrependimento retrospectivo misturado com entretenimento puro. A imagem resume aquele momento em que a gente aceita que perdeu o controle da narrativa, mas reconhece o talento do outro em transformar pequenas falhas em um épico de três temporadas. No fundo, é quase um elogio involuntário, porque nem todo mundo consegue contar uma história tão envolvente a ponto de gerar raiva até em quem viveu os fatos. Relacionamentos acabam, mas as versões alternativas seguem vivas, circulando felizes por aí.

guest
0 Comentários
newest
oldest most voted
Inline Feedbacks
View all comments
Rolar para cima