“Não sei fazer” é o novo “não tô afim”: a arte de fugir das tarefas em modo hard

“Não sei fazer” é o novo “não tô afim”: a arte de fugir das tarefas em modo hard

A síndrome do “não sei fazer” só aparece quando envolve pano de chão, pia cheia ou tampa de privada. Mas basta ser volante de time da Série C ou missão secreta no game que vira autodidata em 15 minutos. É o famoso doutorado em desinteresse doméstico com pós-graduação em fuga estratégica da responsabilidade.

A memória é seletiva: esquece o nome da professora do filho, mas sabe quantas assistências o lateral-esquerdo deu em 2014. O botão do fogão é um mistério indecifrável, mas o menu do videogame ele navega igual hacker profissional. A verdade é uma só: quem quer, arranja jeito. Quem não quer, finge que é incompetente e ainda ganha um lanchinho.

Drama Ilimitado: o pacote de sofrência que se renova todo dia

Drama Ilimitado: o pacote de sofrência que se renova todo dia

Tem gente que acorda e escolhe o caos. Outras acordam, escolhem o caos, e ainda postam nos stories com filtro triste e música da Lana Del Rey. Mas existe um grupo especial, digno de estudo pelo IBGE: os que têm todos os dias ruins, mas com um talento digno de Oscar para convencer que “dessa vez é sério”. E sempre tem um alma caridosa na outra ponta do Wi-Fi que vira terapeuta não-remunerado, psicólogo de plantão, e às vezes até Uber emocional.

No fundo, é um ciclo de afeto, carência e paciência que só o brasileiro entende. Porque aqui a gente não quer saber se o drama é real, a gente quer saber se vai ter textão ou não. E tem gente que alimenta essa máquina emocional só pra garantir o “oi, bebê” diário. É quase um namoro por assinatura, só que sem benefícios — exceto o privilégio de participar da mesma novela todos os dias.

Ser esperto todo dia? Só se quiser dobrar a carga horária!

Ser esperto todo dia? Só se quiser dobrar a carga horária!

Tem gente que não é burro nem nada… só tá economizando inteligência pra não virar referência na firma. Porque no Brasil, o prêmio por mostrar competência é ganhar mais trampo, mais responsabilidade e, com sorte, uma marmita fria no fim do expediente. O verdadeiro gênio é aquele que dosa o QI como se fosse pacote de dados: só usa quando realmente precisa.

Na selva corporativa nacional, o lema é claro — “quem sabe, se esconde”. Afinal, ser medíocre com estratégia é quase um superpoder. O trabalhador raiz já entendeu que o segredo da paz mental é parecer ligeiramente confuso, mas nunca completamente inútil. É tipo jogar no modo fácil, fingindo que o controle tá com defeito.

Terminei, voltei e tô on: o ciclo sem fim do contatinho ressuscitado!

Terminei, voltei e tô on: o ciclo sem fim do contatinho ressuscitado!

A arte milenar do “voltei porque terminei” é patrimônio imaterial da sofrência nacional. É como se o fim de um relacionamento ativasse automaticamente o Wi-Fi do passado, e, do nada, surge a notificação: “você tem uma recaída não lida”. O brasileiro não nega fogo, só espera a oportunidade certa — e o término do crush — pra ressurgir das cinzas feito uma fênix carente.

Esse ciclo eterno de fim de namoro e reativação de contatinho é mais confiável que boletim de previsão do tempo. Se chover, você se molha. Se alguém terminar, alguém recebe mensagem. E se a conversa inclui emoji de olhos e figurinha de desenho, pode ter certeza: vem recaída aí, com trilha sonora de sofrência e tudo.

2 reais, zero amor-próprio e 100% recaída: o Brasil que chora e digita às 01h19

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No Brasil, existe um fenômeno mais forte que a inflação, mais certeiro que boleto no dia 5, e mais repetitivo que reprise da “Praça é Nossa”: a recaída de madrugada. E o que move essa força da natureza? Uma mistura explosiva de 1 litro de álcool, 2 reais de dignidade e 3g de saudade mal resolvida. O romantismo vai embora, o juízo some e o que fica é o famoso “tu vem ou eu vou?”, que já deveria ser patrimônio imaterial da sofrência nacional.

Ninguém está seguro depois da meia-noite. As ideias ficam mais baratas que as promoções da Shopee e o amor-próprio entra em modo de economia de energia. E se a conversa envolve “2 reais”, é porque a pessoa está exatamente entre pedir um pastel na feira e pedir um Uber pro erro de 2020. No fim, não importa se é amor, ilusão ou só carência com Wi-Fi. O importante é que todo brasileiro já foi um “você vem ou eu vou?” em algum momento da vida.

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