O romantismo moderno de quem já tá na fila antes do término

O romantismo moderno de quem já tá na fila antes do término

Essa imagem é praticamente um manual não oficial da persistência emocional brasileira, aquela que não pede licença, não tem prazo de validade e ainda se orgulha de esperar na fila errada. Existe uma coragem silenciosa em admitir que a solidão incomoda, mas existe uma audácia maior ainda em transformar isso numa estratégia de longo prazo. É o famoso investimento afetivo de risco, onde a pessoa aceita o status de reserva com a tranquilidade de quem confia mais no destino do que no bom senso. Tudo isso embalado com aquele jeitinho leve, meio debochado, meio carente, que só funciona porque vem acompanhado de risadinhas virtuais e nenhuma vergonha na cara.

O mais engraçado é como a lógica se inverte com naturalidade. A situação não vira um problema, vira um plano. A indisponibilidade alheia passa a ser apenas um detalhe técnico, quase um atraso logístico. A imagem escancara esse tipo de romantização moderna, onde esperar alguém terminar parece mais fácil do que conhecer alguém novo. É o famoso “tô aqui, mas sem pressão”, que claramente vem com pressão embutida e juros emocionais acumulando. No fundo, é aquele retrato clássico do brasileiro que não desiste nunca, mesmo quando deveria desistir um pouquinho. Persistente, esperançoso e completamente sem noção, exatamente como manda o figurino das conversas que rendem print e risada na internet.

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