Imagens

Geração do Negativo: enxergava nada, mas acreditava em tudo

Geração do Negativo: enxergava nada, mas acreditava em tudo

Ser da geração que tentava decifrar o negativo da foto é basicamente ter um diploma em “imaginação avançada”. Era um exercício de fé e visão além do alcance: a pessoa levantava o filme contra a luz achando que ia enxergar um retrato nítido, mas tudo que via era um borrão alaranjado com fantasmas invertidos. E ainda tinha sempre alguém que jurava saber o que era — “olha aqui, é a vó sorrindo!” — quando, na verdade, era um poste. A emoção de revelar fotos era uma verdadeira roleta russa: ninguém sabia se sairia uma lembrança linda ou um registro permanente de olhos fechados e dedo na lente. A juventude de hoje nunca vai entender o suspense de esperar uma semana pra descobrir que metade das fotos do aniversário saiu preta. Era um tempo mais simples, em que não existia “modo retrato”, mas todo mundo tinha história pra contar — inclusive as fotos tremidas.

Me pediram o RG e agora acredito novamente na beleza da vida

Me pediram o RG e agora acredito novamente na beleza da vida

Ser confundido com alguém mais jovem é o tipo de elogio que vem sem aviso e derruba qualquer autoestima que andava tropeçando por aí. A pessoa pode ter passado a semana reclamando de dor nas costas, pesquisado “cadeiras ergonômicas” e dito “na minha época” três vezes no mesmo dia — mas bastou alguém pedir o RG pra ela renascer em 2007. É o botox emocional da vida adulta. O cérebro entra em modo adolescente automático, o coração faz moonwalk e, por alguns segundos, o boleto do cartão de crédito simplesmente deixa de existir. Claro que o efeito dura pouco, porque logo depois vem o espelho, a conta de luz e o lembrete do ortopedista. Mas enquanto dura, é magia pura. O melhor de tudo é que quem vive esse momento nem agradece, só reage com um “VOCÊ ACHA MESMO ISSO?” em tom de histeria misturada com gratidão.

A fé que move o brasileiro: esperando o décimo cair como se fosse milagre bancário

A fé que move o brasileiro: esperando o décimo cair como se fosse milagre bancário

Esperar o décimo terceiro cair na conta é praticamente um esporte nacional. A pessoa passa o ano inteiro sobrevivendo com o salário dividido em boletos, dívidas e promessas de “mês que vem eu me organizo”, só pra chegar dezembro e renascer com esperança no olhar e o extrato bancário aberto em tempo real. É uma fé inabalável — se o brasileiro acreditasse em si mesmo do mesmo jeito que acredita que o décimo terceiro vai resolver a vida, o PIB já tava nas alturas. E o mais engraçado é que o dinheiro mal chega e já começa a evaporar: presente de Natal, churrasco, amigo secreto e, claro, aquele Pix misterioso que “depois eu vejo o que é”. No fundo, o décimo terceiro não é um bônus, é um pedido de socorro financeiro temporário. Dura menos que o gás, mas a emoção de ver o saldo positivo — mesmo que por 15 minutos — é uma das últimas alegrias puras que restam no Brasil.

Quando a piada vira realidade e o destino colabora na zoeira

Quando a piada vira realidade e o destino colabora na zoeira

Esse tipo de situação é aquele clássico em que a vida dá voltas só pra te deixar sem resposta. A piada começa com uma suposição cheia de estereótipos, daquelas que já vêm carregadas de “vai dar ruim”. E realmente dá: a tentativa de ironizar vira um tapa de realidade, porque os dois exemplos acabam sendo verdade. É quase como aquele ditado popular que diz que até um relógio parado acerta a hora duas vezes ao dia. Só que, nesse caso, a piada ficou completa: o primo de um trabalha em call center, e o do outro realmente é advogado. É como se o universo tivesse falado: “toma aqui a coincidência só pra não deixar a piada morrer”. E o melhor é o constrangimento que paira no ar, aquela sensação de que a vida tem um senso de humor próprio, e geralmente mais afiado que o nosso. No fim, a moral é clara: nunca subestime o poder das coincidências — porque elas adoram aparecer só pra te deixar sem graça.

Quando a calculadora resolve virar operadora

Quando a calculadora resolve virar operadora

Chega uma hora que o celular pede tanta permissão estranha que a gente começa a aceitar por esporte. A calculadora pedindo acesso a chamadas é quase um novo nível de relacionamento: além de fazer contas, agora ela quer cuidar da sua vida social. Imagine receber uma ligação e ser a calculadora que atende, perguntando se quer arredondar o papo pra cima ou pra baixo. A pessoa fala “te amo”, e ela responde “não bateu, deu erro de sintaxe”. O pior é que a gente deixa, porque brasileiro não resiste a uma opção suspeita com a palavra “Permitir”. Já deixamos lanterna acessar fotos, já autorizamos despertador a mexer nos contatos… então, por que não deixar a calculadora virar operadora também? Talvez seja até útil: cada ligação já viria com a porcentagem de arrependimento calculada.

No fundo, a tecnologia só reflete nossa confusão: não sabemos se queremos somar, dividir ou simplesmente colocar tudo em modo avião.

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