De best-seller a calço de cama: o triste fim de um livro emprestado!
No Brasil, o destino de um livro emprestado é um verdadeiro mistério. Pode voltar com marcas de café, anotações existencialistas do tipo “voltar terapia” ou, no pior dos casos, pode simplesmente não voltar — ser sugado pelo Triângulo das Bermudas do afeto literário: a casa do amigo. E quando volta, volta assim: rebaixado de obra intelectual a peça estrutural de marcenaria improvisada.
Porque aqui, se não tem calço de borracha, vai de literatura mesmo. Livro, para muita gente, não é só cultura — é item multiuso: serve pra segurar a cama, equilibrar a geladeira, prensar inseto e até apoiar aquele ventilador que gira igual uma hélice bêbada. A biblioteconomia no Brasil é adaptativa: vai de Kafka ao feng shui de móveis em dois palitos.
E se o autor soubesse o uso alternativo da própria obra? Talvez reescrevesse a sinopse: “Um romance gótico com final trágico — especialmente se for esmagado pela perna da sua cama box.” Isso sim é literatura de peso, literalmente.
A verdade é que no país onde a gambiarra é patrimônio imaterial, o livro não escapa da reinvenção. Mas no fundo, é até poético: mesmo sem ser lido, ele sustenta uma estrutura. Não é isso que a arte faz com a sociedade?