Quando até a cozinha tenta virar trabalho remoto

Existe uma beleza quase poética na certeza absoluta com que algumas pessoas acreditam no poder ilimitado do home office. A imagem mostra exatamente esse espírito destemido: a pessoa pronta para qualquer oportunidade, mas apenas se puder trabalhar diretamente do conforto do seu colchão, de pantufas e com o ventilador apontado na cara. A dúvida nasce, porém, quando a vaga é para auxiliar de cozinha, e aí entra o melhor do humor brasileiro. Porque não existe desafio grande demais para quem já viu influencer vender curso de renda extra ensinando a fazer brigadeiro gourmet pelo Zoom. Se existe consultoria amorosa online, terapia do tarô por videoconferência e aula de zumba pelo YouTube, por que não teria um auxiliar de cozinha cozinhando a partir do quarto?
A graça maior é perceber como o brasileiro domina a arte de adaptar a realidade aos próprios interesses. A pessoa não quer só trabalhar, ela quer redefinir o conceito de logística doméstica. Imagina atender restaurante de casa com áudio de panela de pressão, cachorro latindo e mãe perguntando onde está o sal. Uma verdadeira revolução corporativa, que faria qualquer empresa desistir da presencialidade. A imagem vira um lembrete de que entre o profissional e o impossível existe sempre alguém perguntando se rola home office.




