Ricos por duas horas — A vida secreta nos sofás da Casas Bahia

Ricos por duas horas — A vida secreta nos sofás da Casas Bahia

Existe um nível de ostentação que só pode ser alcançado dentro de uma loja de eletrodomésticos. Enquanto uns estão derretendo no calor, outros descobriram a verdadeira riqueza: o ar-condicionado ligado no talo, um sofá que custa mais do que um carro usado e uma TV que parece mais uma tela de cinema.

O detalhe é que nada disso é realmente deles — mas quem disse que precisa ser? O brasileiro domina a arte do “luxo temporário”, aquele momento em que você entra na Casas Bahia e vive como milionário até o segurança começar a te acompanhar com os olhos. E tem toda uma ciência nisso: a postura de quem parece estar “decidindo qual vai levar”, o suspiro técnico diante do ar gelado e o olhar crítico para a TV como se fosse especialista em áudio e vídeo. No fundo, a maior prova de sucesso é conseguir passar duas horas lá dentro sem ser expulso.

O Pix matou o sonho de achar dinheiro na rua

O Pix matou o sonho de achar dinheiro na rua

Encontrar uma nota de cinco reais na rua já foi considerado sinal de sorte, bênção divina e até prenúncio de que o final de semana teria coxinha extra na padaria. Mas aí inventaram o Pix e a tecnologia acabou com esse pequeno prazer da vida. Hoje em dia, a única coisa que a gente encontra no chão é QR Code de propaganda e recibo amassado do iFood.

A rua ficou mais pobre e a nossa esperança também. O Pix é prático, é rápido, é moderno, mas tirou da humanidade aquele momento mágico de olhar pro chão e pensar: “meu dia mudou agora”. Pior é que não tem como tropeçar num Pix perdido na calçada. No máximo, tropeça na vida mesmo. A verdade é que estamos vivendo uma era em que a sorte não vem mais em forma de nota de dez enrugada no vento — vem em cashback de 3% no aplicativo, o que, convenhamos, não tem nem metade da graça.

Sub-Lápide: Jovem demais pra morrer, velho demais pra ser trendy

Sub-Lápide: Jovem demais pra morrer, velho demais pra ser trendy

A categoria sub-lápide é a prova de que a vida inventou um limbo etário só pra confundir a gente. Aos 53 anos, você não é jovem o bastante pra entrar na turma do “novo de 30”, mas também não é velho o suficiente pra ganhar carteirinha VIP do grupo da terceira idade que viaja de excursão e ganha desconto no cinema. É aquele ponto em que, se bater as botas, a galera solta um “poxa, tão jovem”, mas se entrar na capoeira já vira a tia respeitável que todo mundo ajuda a levantar.

É quase um bug no sistema da vida: você é jovem demais pra morrer, mas velho demais pra não virar a referência de idade em qualquer lugar. Academia? “Olha o tiozão fitness aí”. Curso de dança? “Chegou a experiente da turma”. Resumindo: é viver no eterno meio-termo, um estágio onde a única certeza é que o Google já começa a oferecer anúncios de colágeno e plano funerário ao mesmo tempo.

Multado pelo Detran do amor e reprovado no exame da cantada

Multado pelo Detran do amor e reprovado no exame da cantada

Quando o brasileiro resolve ser romântico, é sempre com criatividade duvidosa. Tem gente que manda flores, tem gente que escreve poesia… e tem quem apareça com um “boa noite, aqui é do Detran” achando que inventou a cantada do século. É impressionante como a mistura de paixão e vergonha alheia pode caber em três linhas de texto. O cara conseguiu transformar o órgão de trânsito em cupido, mas esqueceu de passar no departamento de bom senso antes.

O detalhe é que a vítima da cantada não só não se deixou levar, como aplicou a verdadeira multa que ele merecia: infração gravíssima por excesso de cabacisse. Nesse ponto, não tem recurso, não tem advogado que resolva, e muito menos pontos na carteira – só pontos no currículo de fracassos amorosos. Moral da história: quem confunde declaração com boletim de ocorrência do Detran merece mesmo levar a famosa multa educativa da internet.

Quando até o cartão te coloca na mesma fila da esperança

Quando até o cartão te coloca na mesma fila da esperança

Ser humilhado pelo próprio cartão já é constrangedor. Agora, ser consolado pela pessoa que você estava tentando ajudar é um combo que só acontece no Brasil. A cena é tão simbólica que poderia virar slogan de banco: “Aqui, até o sem-teto confia mais que seu cartão”. E o pior é que o cara na rua ainda dá a maior lição de vida: solidariedade compartilhada, fila da esperança e uma coxinha que nunca chega. A vida financeira do brasileiro é tão complicada que até na hora de praticar bondade a maquininha de cartão resolve ser seletiva. O banco não perdoa: coxinha negada, mas juros aceitos sem pensar duas vezes.

Enquanto isso, do lado de fora, surge a verdadeira irmandade: dois seres humanos unidos não pela comida, mas pela espera de um Pix milagroso. É oficial: no Brasil, até a solidariedade precisa passar pelo crédito aprovado.

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